domingo, 25 de dezembro de 2011

Estrela

Quando observo as pessoas passando
Vejo estrelas:
Sinto que brilham,
Imagino que estão mortas.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

tatuar no pulso: pequeno, tudo é pequeno...

domingo, 27 de novembro de 2011

Assim

Quero assim minha poesia:
Redonda como um pingo de chuva
Que não chega,
Em terra que só precisa dele.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Brasília



As cidades são serpentes de luz
Se engolfando em meio ao mar
De escuridão que é o mundo.

Suas ruas, em falsas retas
São a matéria de sua ilusão.
Quadras, superquadras,
Esquadrinhadas com esmero
Para esconder tudo que pulula
Sob o concreto.
Tudo de vasto e víscera,
Cujo sentido é varrido para baixo da pele.

Chove, chove a noite
E o espaço se esvazia,
Espinha de peixe após a refeição.
Rastros e rumores se arrastam
Pela via pública:
O povo que sobra, o povo que é.

Entre o banco e a rodoviária
Um Gol estacionado com um isopor
É um bar fora de lugar (?!)
A cidadade senta em um banco de plástico
Toma a saidera
E adormece.

domingo, 23 de outubro de 2011

Filosofia em verso (por preguiça)

A fácil felicidade após um filme
Mascara algo, ou é a verdade?

A arte é possível sem derrotismo
Ou é ela mesma, como criação imaginária
Assumir que a vida prática é impossível;
Enquanto como prática, a prova de que
A potência existe?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O devir e o dever

O devir sempre ofuscado pelo dever
Desviando antes que nasça o sonho
De a fruta cair da árvore em nossa mão.

O dever sempre um passo a frente
De qualquer pensamento que rompa:
Nunca consegui tirar a capa da faca.






terça-feira, 4 de outubro de 2011

Cardápio do almoço:
Massa ao alho e olho.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Três axiomas líricos


I
O vidro se expande por todo lado.
Invisível, a princípio não se revela
Mas cerca sorrateiro os passos
Dos que largam a escola, engolem sonhos,
Dos que colidem os carros fumando longos cigarros,
Dos que vestem ternos e tomam sorvete.

Quando o cotovelo desajeitado se estica
Quase sem querer em direção ao peão
Dilacerador e brilhante
Que gira dentro de todos os nós,
Vemos o vidro transparente
Quebrar destemperado:
Enchendo de gosto (sangue ou sorvete?)
A vida de quem ousa.

II
A vida não importa.
O que importa é o que fura a vida,
Para fazer dela algo sonoro, que valha,
Ou para com ela acabar.

III
O significado das coisas, quando se começa a buscar
É como o momento em que o mágico começa a puxar da cartola
Aqueles lenços coloridos, atados uns aos outros, longos pra caralho
E espera que eles acabem, que parem de sair da cartola, preocupado com os espectadores
Que já cansam dos minutos, horas, dias ininterruptos,
Preocupado com os panos que já enchem todos cantos da sala com suas rebarbas Ásperas
Não sobrando espaço nem para encontrar a janela de saída.
E o mágico se vê escravo do truque, dos tecidos, que englobam, mostram cegando,
Em um Número infinito, dança do cavar a própria cova
Inevitável, a quem começa.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ligeiramente

Deitou sem nenhuma reclamação
Específica, com um desejo simples:
Que o travesseiro fosse um lexotan
E os dedos não escapassem do cobertor.

Acordei antes de ter adormecido.
Algo no semi-sono gritava negro como
A pupila pós dia de matança ou festa.
(No fim não é igual?)

Despertaram assustados como o despertador
Todos lados da discórdia dizendo sim
Entre quatro paredes e duas orelhas.

E vimos dentro e fora.
Os livros cabeçaprabaixos na prateleira
Uma chibatada e os pés correndo abertos
Arrastando terra pelos lados:
Tudo ligeiramente fora do lugar

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Da morte Segunda

O desejo de um estado de sítio
Qualquer, até o fim do estado.
Onde há muita vida há muita morte?
Por que não os dois assim
Gozo e sangue?
Não, não suportamos nem o peso
De um simples saco de batata.
Gozo e sangue?
A felicidade na lesão?
Sim,
Deixa para os supersantos
Campeões do desejo completo
Que vivem no imaginário de
Qualquer boate de porão.
Esses que tocam o tempo como
Se fosse alguma massa
Com molho seco jogada na geladeira.
Para quem o brilho do pingo de cerveja
Derramado no sapato ofusca a luz do poste
Que o ilumina.

Ainda melhor do que o dia
Onde as segundas forem infinitas.
Viu um nó de gravata mal-feito
Sem gravata, só aquele losango
Irregular, informe, em sonho.
Acordou gritando como se fosse o último suspiro
De um tempo por vir.
E pedindo: Não para mim senhor almofada de dentro!
Cadê o estilete e as plumas, as ruínas, as rumbas?
Digo, como se corta tudo isso, ou pior como se liga?
Se ordena em pirâmides seladas por números. Romanos, talvez?

Não vamos sentar na privada
Deixar o mundo desaparecer em jornais,
Até voltar para sala e acender outro café?
Devolvam-me o gozo e o sangue logo!
Porque as baratas levantam as antenas
Antes que nós as orelhas do travesseiro
E nos escutam antes que pensemos em dizer....

domingo, 4 de setembro de 2011

Em dia de calor, até pássaro negro se derrete.



Ela viu o laranja do guarda-sol em dia de verão nublado,
Descolou o pé da sapatilha, colocou fundinho na terra.
Era tarde, era praça e os músicos de rua bailavam o povo
Com suas violas, guitarras, trompetes, saxes e jazzes.

O vestido verde água dela, curtinho, se ensaiava ao vento,
Mas o corpo seguia como o pé, enterradinho na terra.
Pegou a máquina e decidiu fotografar, capturar para amanhã
Os movimentos que não eram seus agora. Queria gravar as estranhas
Expressões que aparecem, quando se congela os que se mexem.

Então, cuidadosa, começou a rodear os dançarinos, em seus pares
Coloridos, ímpares, cantando com as pernas em meio à música instrumental.

O click da máquina, o claque do pé, o click da máquina, o claque do pé
O mundo comovendo-se, mirado por um olho só, parando o momento.
Do sol a uma mão, a outra, ouvido o ritmo, da música, do pé, da lente.

O click da máquina, o claque do pé, o click da máquina, o claque do pé
Como queria ela também dançar, ser orgânica, fluida, tardia à tarde,
Cansada de ser artista do tempo curto, de ser exata, relógio da imagem.

O click da máquina, o claque do pé, o clique da máquina, o claque do seu pé
De repente, deslizava os dedões e dedinhos dentre os grãos de areias,
Tão formosa quanto desajeitada, como a câmera balançando ao pescoço.

E preocupava-se será: que a lente não vai quebrar? Será que a lente
não vai cair?
É nova, é da América, é de quartzo. Porém agora ela que era nova,
da terra, de carne
Vida vivinda de não sei donde, vingando, na planta do pé, dando sentido as pulseiras
Flourescentes que sempre floriram seu tornozelo redondo, potente.

Deixou a câmera em um canto, escondida por folhas caídas e se esticou,
coxas para o alto, braços aos céus.
Mas poderia ela, soltar-se assim?(e o êxtase a tomava) De que valeria
aquele momento
Se logo tudo voltaria ao cinza das nuvens? (e notava que pensar já não valia)
E se perdesse seus olhos pesados? (o vento ventava ela toda, bailava em
marcha reta a uma luz qualquer,
Sabia que nada importava e não se importava com isso)

Do nada, nada em sua cabeça, aquele silêncio cheio, copo d’água para
ressaca da alma
Enquanto o mundo todo gritava a ela em raios luminosos, a música acariciava
sua pele
As unhas de outro, polidas, tocaram os dedos delas, roçaram o peito,
molharam a íris
Entrelançava-se sorrindo àquele corpo desconhecido, como nunca,
Sentia sua tez negra, lisa, moviam-se improvisando, traço e compasso
e deslizes.
Já era noite e o sorriso descansava aberto, em frenesi vidrado.
A luz dos lampiões faziam o escuro mais dia que o dia, e se somavam a ilusão,
O que tinha dentro brilhava tanto que se espalhava até voltar,
juntando corpo e olho.

Então notou que uma mancha rápida, um pivete qualquer desaparecia com a
sua câmera.
Fingiu que não viu e continuou a bailar, embalada.
Sentiu uma lágrima escorrer-lhe a face, depois de anos:
Não sabia se de alegria ou tristeza e por isso ficou intensamente feliz.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reflora

Cercado de coloridas flores decepadas
Dispostas em tapete não ritual,
Caminho descolhendo uma a uma
Colocando-as de volta no caule da minha orelha
Para que desapareçam.

Lentinho entronco manso, sem raízes,
No chão da minha antiga terra.
Já toco a água do rio
Sem medo dos crocodilos,
Vejo até com dois olhos
A fumaça da fábrica
Embelezando o pôr-do-sol.

Talvez meio por meio dos outros
Tenho de novo a mim.
Menos chumbo e mais junta,
Analisando como um seio
Cada aro da corrente
Que ainda prende meus pés.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Qual a distância entre teu sorriso
E os teus caninos?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Despir

No quarto emadeirado
Com detalhes de veludo
Acendeu o incenso indiano.
Ligou a vitrola e colocou
Um disco de jazz sensual.
Limpou a cama dos livros
Para dar-lhe o devido uso.

Deslizou a mão sobre sua pele
No mesmo sentido dos pêlos,
Chegou perto da braguilha.
Abriu com suavidade o botão,
Vibrando viril, voluptuoso.

Viu com prazer o friccionar
Das calças Lee nas suas pernas.
Soltou as presilhas da blusa
Uma à uma, lentamente
Atento a cada sensação sua
Suspirando sereno em cada toque.

E deitou-se desejante
Após espalhar cuidadosamente
As roupas no chão do quarto.
Queria acordar na manhã seguinte
Pensando que havia feito amor.

terça-feira, 12 de julho de 2011

De novo veia


De novo veia!
Pulso que repulsa noivamente.
Escorre, escorrega pelo quarto
Feito limonada de sonhos.

Fazem-se surdos os gestos que amassam
Catalisam uma revolta simples de
Quem já tocou o bicho de pé no chão.

Pego meus panos e amarro planos
Antes deixados jogados feito trapos.
Busco com corda de mágico
O balde ótimo que atirava
Para o fundo do buraco de barro:
Ainda há terra húmida, umana
Emanando do meu bucho.
Ainda A fome, mas sabe, existe fome que brilha!

A boca suga como aspirador de porta
Traz a janela de volta a soleira da mente
Torcendo a casa inteira, espiral de madeira.
Olho para dentro dele e vejo algum mim
Que quero.

Me atiro armado de máquina
Fotográfica com ponta de baioneta.
Vou gravar a imagem do novo no peito
Sangrando de quem toco e vejo.
Vou matar o medo, chupar sua imagem
E cuspir na minha própria cara de qualquer um.
Enfim ir. Ah... Finalmente rir!...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Trocas de frente

A sua face estampadava toda:
Anúncio de jornal complexo
Reforma rasante no falso.
Dizia as palavras inditas
Brilhava as benditas
Gemia as profanas:
Em olhos gema
Trocando cor.
Eu tétentava
Rosto, mas
Frente a
Essa
Era

.

(Enquanto, inapto, me sorria todo por dentro)


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Me reinvernando

As palavras dela
Vinham de um café
Carcomido e vermelho
Em frente à linha de trem,
Longe como a água.

As minhas quando começaram
A renascer voltaram ao chão,
Empalavraram em pedra
Frente ao vento viloz:
Agora já tenho onde pisar.

Adendo:
E não é que ao meu pé,
Vejo um pé de amoreira:
Já com folhas suficientes
Para resistir ao inverno
Ou gerar um livro.
Ter todas palavras do mundo na soleira da janela é benção ou maldição?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Um novo poema de inverno

A neve caindo gentilmente em leves flocos.
A neve caindo gentilmente sobre o metal.
A neve caindo sobre um caminhão.
A neve amassada sob um caminhão.
A neve vira fumaça que tudo crispa.
O branco lento sujando em cinza.
O boneco de neve tem agora nariz de chave de fenda
Em frente ao lago onde o grande ringue de patinação se engendra.
E onde se encontra inspiração para as letras do caderno?
Na pureza violada de um novo poema de inverno.

sábado, 18 de junho de 2011

A(s)cendendo número III

Gentilmente azul em uma tarde do fim
Dedislizo sobre as tuas costas notas
Vítreas, vagas, (re)voltando-se contra
O vento que ruma ao centro, cinzento.
Desleixando-me em esparronronadas ,
Concentricando-me em tua costela catorze
Sinto que esse é o paraíso desperdido.
A manta da noite cerra os olhos.
Nossa luz lampiãojada é o sal do céu
A bruma míngua ao ver as quatro cristalunas
Que pontingüam nossos rostos sardentos.
Simétricando-me em teu quadrilíquido,
Santalma mista ao murmúrio feminásculo
Marcho interno por tindo por tando
Ao ritmo Ravélico, rabínico, ramado
Rente a rua, lá fora, longe, lua.
Riotórrido correndo em corrente rítmica
Empapando-se de tempo livivido e rosado.
Ruindo a rasão, intuindo um toque sentido
Sabiamente manso, sabiamente crescendo.
Sabor de sul, de calor, cascas de laranja
Sabor de carta, sabor de carne, sensabor sem fim.
Descastiçal explosivo de fogos de artifício naturais
Em ascensão até o céu negado aos que lá moram.
E que vaivolta fácil, fecundo, fiodetudo, faztátil
Afasta e vem e criamando calamitoso calardente
Canta tortura tântrica, tontura atôlmica
Tateando enfim, em um pestanejar de óculos
A face estampadada: o finício do infinito prazer.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Hall de entrada

Vi um novo hall de entrada
Tinha quadros de formas arredondadas.
Uma poltrona confortável
Tão confortável quanto pode ser,
Uma poltrona de hall de entrada.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

menina preto pupila papoula

Se deus me criou, posso criar a deus.
A reciprocidade é uma infecção subcutânea.
Digo, olhei para o céu, era preto-pupila,
Cor da papoula e dali surgiu uma menina
Com uma mesa virada verde na mão.

Cotei suas costas
De nada valiam,
Como queria,
Carta viva na manga.

E beijou-me sem ser pedida,
Dançou os meus pés.
Fêmea que afagava
Com os dedos meus nervos
Com os seios meu peito,
Com cortes meu coração.

terça-feira, 24 de maio de 2011

(Re)Volta à Porto Alegre

Sente o cheiro do progresso
Na lapela da camisa:
Sopro de quem ajuda
Depois de pensar.

A simpatia envergonhada
Do meio sorriso:
Pensando em resultado
Se faz a piada.

Igual posso rir, chorar e cuspir
Me jogar no rio para de todos espanto!
Ainda encontrar companheiros para desesperada cerimônia,
Um dia do mês.

Fazer da cidade um plano mental
Onde as direções sejam curvas,
Ônibus só trafeguem por uma esquina.
Achando coragem para furar o silêncio,
Ainda.

Serão meus dedos mais rápidos
Que a velocidade das moscas, muros, músculos?
Sempre tenho uma pequena faca no bolso,
Que pouco uso.

Também tenho um canudo longo
Inspira sabores e sons
Expira trivialidades que vingam no profundo.
Espero que o vejam e ouçam.

Temida casa és,
Amores aí encontro.
Mas agora vôo
Vôo.

sábado, 14 de maio de 2011

Gentil macio vadio.
Arcavante do primeiro.
Passo perdido,
Sem medo do espinho,
Sempre gritando,
Igual.

Formas se amorfam
Quando nelas toco.
Estou viciado em minhas mãos,
São lunetas da verdade corpo
O símbolo do sim.

Sandália soldada no assoalho.
A sua logo a minha.
Saída suada sangra.
Agora. Vamos. Vou.
Fui.

domingo, 8 de maio de 2011

O amor sob o pano

O amor que se esconde para ter que vingar,
Que obscuro se tem que regar,
Para o fruto não aparecer rápido,
Para que o povo não veja e se assuste.

Palavras sempre medidas visando efeito.
Silêncios para atrair fluidos ,
Chamando pela ausência:
Resta um a dois,

Jogo estratégico de vidro e sopro,
Fontes de letra retas,
Voz entrecortada.

Esse tempo não é para mim
Quando amo grito como com raiva
Para que tem ouvido de grito.
E meu cochicho é carícia
Para quem entende o delicado.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Fingindo ser quem eu era, já que não sei mais quem eu sou.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Finito, o ainda não maldito

Finito cansou de levantar bandeiras. Lênin para ele tinha se transformado de Deus em uma Madonna de barbicha. E se cansava de ouvir gente reclamando do consumo e da poluição e do fim do verde e das relações liquidificador, como se a humanidade não tivesse o que merece, ou como se o mundo fosse feito de algodão. Acordou aquela manhã somente para sentir o sofá massagear suas costas, como faziam a mãe ou a última amada, há muito tempo idas as duas. Tinha decidido viver como se a vida fosse um cigarro e as pernas fossem feitas para se apoiarem nas paredes. Aceitava o desinteresse e o tédio, sentia saudades deles quando se excitava. Um dia foi passar o fim de semana em Brasília, para o casamento de seu tio-avô. Na volta os amigos perguntavam: “ como é lá, e a asa norte e o Renato Russo e os prédios do Niemeyer.” Ele respondeu: “É bom, lá comi um cachorro quente delicioso, eles põe purê dentro, é como concreto, feito para as partes não caírem, mas tem gosto de batata.” E mais nada. Dedicado ao silêncio convicto, esse é Finito, um excluído com preguiça de tornar-se um maldito.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sister Ray

Hipnose repetição mescla e grito.
As duas se misturam, suas pernas, seu sexo.
Tenho medo, medo.

Elas vão morder
Me arranhar forte, sangue
Me fazer alto, forte, doído.

Se tudo se derrete de que vale pensar?
É irreal como as baratas na sala da madame
Ou uma rachadura de um prédio com inço no centro.

O gingo da vassoura
Morfina que renasce dos ossos,
Da última cirurgia forçada.

O olho do ritmo,
Do touro. As chaves de molho
As portas abertas, a culpa no quarto dos fundos.

A moça com nome de vírus
Visitou-me a noite
Estourou dois balões com a boca.

A ética do tesão,
Do controle esquecido
É mais real, é mais falsa.

Acho que não estou pronto para o couro.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sombra, rainha da direção
Assassina do movimento.
Sendo sua homogeneidade
Uma invenção humana
Ou o humano invenção dessa.

A civilização, só mais um
Grande empreendimento do Conforto,
Com seu infinito potencial
De construir e sentar.

Nós, aves planando cheias de
Ditos bonitos e repetitivos
Que as vezes entendemos
Quando chove antes de deitar.

Você, intocada e intocável
Sentada em um café bem iluminado.
Usa tua voz moça, soa o meu dia!
És o perigo e o sentido do vagar
E mereces meu córrego tranqüilo.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Eu iludido, ou a metáfora dos fósforos.

Ele guardava os palitos usados
Dentro da caixa de fósforos.
Não gostava de distinguir os vivos dos mortos.

Temia mais o prenúncio que a consumação.
O amor mau-respondido
Antes do não definitivo.
O tropeçar e a testa no chão
Antes do marulho do caixão.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Cidades são mulheres (o mijo e a mágica)

I
O cheiro de mijo
À noite alguém
Encontrou bom abrigo.
Essa praça era cheia e minha
Agora só os ventos e seus perdidos.
Perde-se uma cidade como qualquer coisa.
Posso perder-me nela agora.
Enquanto formamos o mapa ou enquanto
Esquecemos o que lhe formou:
O tato aí existe, os dedos aí são dedos.
Embrenhamo-nos na bruma de fios e água.
II
A mulher também é uma cidade.
Seu centro é um subúrbio daqueles,
Onde os vulcões crescem e implodem
Antes de sabermos porquê.
Nas suas ruas os perfumes são extasiantes:
Correm pelas sarjetas junto aos carros antigos,
Junto aos vendedores de castanha de caju.
Quando se cai em um buraco do pavimento
Nunca se chega ao fundo.
Uma boca come o que as outras falam.
E não existe passo pensado ou sem motivo.

terça-feira, 15 de março de 2011

Reminsescências, por que não minguam?

Acordei hoje pão dormido
Duro, seco, sem esforço de ser gostado.
O gosto de maçaneta na boca
Da porta que não se entrou.

Na saída da estrebaria encontrei uma ferradura.
Pelo pó nela incrustado
Sabia os lugares pelos quais ela havia passado.
Segui a trilha a que ele me levava,
Acabei na mesma estrebaria.

Os vagões do trem se dividem
Em uma encruzilhada, caminho qualquer.
Nunca se juntam de novo.
A memória às vezes parece mais real
Do que vemos ou ouvimos.

Os encontros desencontram as canções
Que calcaram no couro da pele seus porquês.
O pé segue se arrastando tchh...tch...
E da boca salta um suspiro abafado pela mão.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Só queria andar

Passo, passo, medo e passo.
Por que cheguei? Só queria andar.
Mas vocês vem com suas idéias de que há um mundo
E ele precisa de bolachas, brinquedos, sapatos.

Sentado ao ver o mar, o mar de movimento das massas,
Esqueço do oceano vasto da solidão:
Quando toco essas massa, ou onda,
Quando converso bebo brinco mergulho.
As vezes é dias de fusão e nesses sim Sou.
Também a máquina para. Energia é recurso infinito.
Torno-me a chave de fenda trancando as engrenagens.

A água transparente que me banho é a potência das potências.
Se converte além disso, quando a telha nos dá,
Em gigante gelatina, mãe d'água sem filamentos,
Me abraçando, vetando meu flanar.

Quem se demserece agora?
O mundo a eu ou eu ao mundo?
No instante seguinte transmuta-se belo,
Mesmo se gélido, em montanhas de imundos.
A dupla fronteira da alma:
O lado de dentro, o lado de fora.
A múltipla fronteira da conquista,
Melhor. As categorias derretendo pela manhã
E a gente se expandindo feito um tênis
Pisando um grande chiclete preto.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Será que a conseqüência é o juiz do ato bem executado?
Seria em um mundo de atores belos e amantes da beleza.

terça-feira, 1 de março de 2011

Córte

Erva daninha, sujeito da história.
Cresce invisível ao pé da cama,
Quando notamos já somos fantoches
Dessa rubra máscara vazia.

Números escorrem líquidos por debaixo da porta
Enquanto se escutam os passos por detrás dela.
Será que é possível um ardor de entrega
Que nos acompanha como sombra?
Talvez não tê-lo seja sempre trair a quem se encontra.

As aranhas já tecem a minha volta
Quando recém deitei, nem sonhei.
As vejo, as entendo, mas fico imóvel.
Parece que é esperar assim por algum aspirador
Ou romper tudo de uma só vez.

Levanto com braços de espada
Corto laço após laço, cabeça após cabeça,
De amigos queridos, carrascos infantis,
Irmãs de sangue, padres de palavreado vago,
Ídolos idealizados, amores perdidos e encontrados.
A nação e seus ancestrais, a mãe, o pai.
Enquanto rolam os membros e cintos,
Deslumbrado de terror e êxtase
Danço a capoeira que não sei,
Uso o ábaco qual nunca usei.
A melodia mais bela explode do pulmão
Só para os comparsas deste deserto de sal.
O peito pressente a cápsula ou a lâmina:
Por não temê-la segue aberta sem encontrá-la.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Do coração da África

Mesmo antes de chegar a tua costa
Já amo a terra descascada
De árvores cortadas, comida cozida,
Onde pisa a dança despreocupada
De infinitas infinitas famílias.

Cultivando machamba* de dois tomates,
No máximo um negócio por dia.
Crianças ficam na casa do vizinho,
Porque todas a todos pertencem
E cada mãe é também ama de leite.

Uma vila tem galinha do mato
Que exibe aprumado o pescoço azul.
Outra cria cabras que parecem cavalo.
Outra acumula latas enferrujadas
Laranja vivo que mastigam
Os porcos sob a luz do pôr-do-sol.

Crianças que se enfileram nuas
A beira do lago somente para
Apertar a mão do estrangeiro.
Crianças que ainda não sabem pedir,
Mas já sabema língua dos negócios.

Mil receitas para fazer cachaço
Mil pais caindo bêbados chatos.
Exército de bebês correndo sobre
Plantações de magros vegetais.
São as palhotas mesmo iguais?

Lugar que somente se adivinha
Pela inversão de estereótipos,
Sempre inconsciente se entendido.
Vida de começo em media res
De pais que são filhos e vice-versa.

*pequena plantação

Poema Colagem Cape Town

A cidade vibrando quebrada
A metrópole viva estragada
As bitucas de cigarro catadas no chão
Se agrupam em um colchão na casa abandonada de um mendigo.
Pedintes pedindo coisas que se tem mas não se quer dar porque daí não se vai mais tê- las.

Ah! As veias pulsantes de luzes, impulsos elétricos, histéricos, sintomáticos de cabeças que ouvem muito barulho. Serpente de luz, anágua macroeletrônica.
Aonde ficam tuas palavras nessa brincadeira?
Quem te ouve cidade mãe? Quem se ouve na vila de cães?
Sim, sorriso incausado, cumprimento casual, encontro no absurdo, maravilha, Carnaval!!
E depois disso cavalo de pau? 180 graus? Levanta a poeira para depois baixar?
O diferente queres afugentar?
Já no fosso do castelo a água está suja e a lua aparece esverdeada!
E vives cidade! Vais ao trabalho, agüentas longajavascript:void(0)s filas, escondes a bolsa e imaginas despedidas, mas ficas!!
De onde tanta vontade? Até vitalidade? Por que não te deixas arrastar na Próxima tormenta, arrasar na próxima chuva ácida?
Há tantos penhascos bonitos por ti, por que não pulas?
Há tantas armas perdidas por ti, por que não as disparas, não te ajudas?
Aí estará para mim teu eterno mistério ó caixa de pedras.
Que dessas montanhas de carne se formam humanos cujo amor mesmo que canalizado cloacalmente ainda brilha, nem que seja por um pequeno tecido, tenra boca, uma festa oca.
Que te esquadrinhes, te distrites, mas que ainda existam canais que formem fluxos de águas autênticas, vestidas de formas excêntricas.
Brigas, tens porquê brigar, não gritas, mas tens porquê gritas, cantas!
Absurdo do absurdo, cantas, como se vivesses entre chafarizes! E crias chafarizes!
Danças! Assim como nada tivesse acontecendo, por um momento não sentes nada fedendo.

A criançada se molha, se lambuza, joga bola, cresce, espanca, abusa, usa, recusa, se culpa, acaba, reclusa. E aí explode a represa, busca a certeza, se esconde no parque, brinca de arte e parte. Volta, vira parte. É preta e se pinta de preto, é branca e se veste de medo; desde cedo aprende o segredo, por isso cala e vai para a cama mais cedo.
Tchau Tchau.. Beijo Beijo.
Olá minha princesa.
Olá meu Princeso.

Meu sonho é ser guerreiro e o dele é conseguir emprego.
O meu é ser dona de casa e o dele(ou dela) é encontrar um bofe.
O meu é jogar Rúgbi e o dela é concerto de roque.
E a gente caminha junto né, vou te dizer que não fala muito, porque a coisa andou meio tensa.
Teve gente arranhado Jaguar, gente queimando loja.
Mas que podemos fazer? É no famoso tem que ser, porém também no pode ser, que encontramos forças para dizer:
Sou, cidade. Sou cidade.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Gritode um jovem africano!

I
Arranjei uma manga suculenta e grande.
Deve ser suficiente para a tarde
Já que o barco ficou preso,
E o turista não deu dinheiro.

Logo é natal, dia de comer arroz,
Falar com a boca cheia e projetar a barriga.
Me ensinaram que nessa data
Nasceu um branco cabeludo e alto
Que não cuspia fogo nem dormia de dia.
Falava de pombas e de um grande senhor,
Abria bocas e perdoava travessuras.

II

Me dê algo elétrico
Nem que seja chicote
Pra marcar de neon
Minhas costas amargas.

Pinte o céu de vermelho
Desde que chova das verdes!
Dê-me um grão, faço refeição,
Ou repetido refrão que faço lema.

Se for famoso estampa meu peito,
No significado se dá um jeito
É só o tecido proteger do vento.
Todo o homem é igual em direito
Então quero ser igual ao mundo inteiro!

Ouvi de cidades distantes
Onde se entralaçam brilhantes
Luminosos em cruzamentos
Comandados por luminosos.

Vou pedir ao secretário
Para lá botar meu barraco.
Eu qero ver se pesco rato
Na lua de São João,
Como o meu avô me ensinou.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Caleidoscópio Africano


O mistério dos sexos:
Cantigas e camisas
E as cambiantes capulanas*.

Cabanas de palha
Pilhas de carvão as rodeando.
Fumaça de lixo junto as cabras pastando.

Moscas passam em si urticando,
Sonhos de conforto desnecessário,
Atrás os holofotes de um comercial.

Cordas ligam tudo,
Fecham sacos, amarram motores,
Afinam tambores, prendem os loucos.
Arames entretecidos viram carros
De brinquedo, que transportam os donos.
Criatividade mágica provem da precariedade.

Precocidade, densidade que encurta a vida.
Sonhos vetados e os que profundos vingam
Sem você sonhar em ver.

Adjetivos, esses ajudantes sempre aleijados
Insuficientes em afirmações africanas.
Selvagens, haha, os chamam de selvagens.
Substantivos perdendo sua generalidade.
Chuva só é chuva se encharca.
Após se ver um baobá**
Nenhuma outra se chama árvore.

A vastidão dos desertos e as savanas.
A presença constante do horizonte
Vazio, não figurativo.
A figura que aparece do horizonte
Pede um cigarro e desaparece do lado oposto.

Sonhos de conquistadores
Lanças, tochas, rituais,
A feitiçaria onipresente escondida.
Nomadismo e todas suas conseqüências.

As primeiras migrações humanas,
A emoção de pisar em algum lugar
Onde nenhum portador de dúvidas havia pisado.
Tremer frente ao primeiro frio congelante,
Descobrir o fogo novamente.

Tudo pairando, cavalos marinhos no ar
Prontos a se inspirar, de boca aberta.

Sobre terra que não é de palavras
Palavras não irão resolver.
Aprender não se explica menino!
Vai ver e sai sabendo que não viu.

*Capulanas são os lenços de padrões coloridos utilizados pelas mulheres na África para se vestirem, carregar bebês, guardar roupas ou cereais.
**Imbondeiro: Árvore de grande circunferência existente na África, tema de muitos mitos, que normalmente por ser boa sobra se torna o centro de um vilarejo.