quarta-feira, 29 de junho de 2011

Me reinvernando

As palavras dela
Vinham de um café
Carcomido e vermelho
Em frente à linha de trem,
Longe como a água.

As minhas quando começaram
A renascer voltaram ao chão,
Empalavraram em pedra
Frente ao vento viloz:
Agora já tenho onde pisar.

Adendo:
E não é que ao meu pé,
Vejo um pé de amoreira:
Já com folhas suficientes
Para resistir ao inverno
Ou gerar um livro.
Ter todas palavras do mundo na soleira da janela é benção ou maldição?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Um novo poema de inverno

A neve caindo gentilmente em leves flocos.
A neve caindo gentilmente sobre o metal.
A neve caindo sobre um caminhão.
A neve amassada sob um caminhão.
A neve vira fumaça que tudo crispa.
O branco lento sujando em cinza.
O boneco de neve tem agora nariz de chave de fenda
Em frente ao lago onde o grande ringue de patinação se engendra.
E onde se encontra inspiração para as letras do caderno?
Na pureza violada de um novo poema de inverno.

sábado, 18 de junho de 2011

A(s)cendendo número III

Gentilmente azul em uma tarde do fim
Dedislizo sobre as tuas costas notas
Vítreas, vagas, (re)voltando-se contra
O vento que ruma ao centro, cinzento.
Desleixando-me em esparronronadas ,
Concentricando-me em tua costela catorze
Sinto que esse é o paraíso desperdido.
A manta da noite cerra os olhos.
Nossa luz lampiãojada é o sal do céu
A bruma míngua ao ver as quatro cristalunas
Que pontingüam nossos rostos sardentos.
Simétricando-me em teu quadrilíquido,
Santalma mista ao murmúrio feminásculo
Marcho interno por tindo por tando
Ao ritmo Ravélico, rabínico, ramado
Rente a rua, lá fora, longe, lua.
Riotórrido correndo em corrente rítmica
Empapando-se de tempo livivido e rosado.
Ruindo a rasão, intuindo um toque sentido
Sabiamente manso, sabiamente crescendo.
Sabor de sul, de calor, cascas de laranja
Sabor de carta, sabor de carne, sensabor sem fim.
Descastiçal explosivo de fogos de artifício naturais
Em ascensão até o céu negado aos que lá moram.
E que vaivolta fácil, fecundo, fiodetudo, faztátil
Afasta e vem e criamando calamitoso calardente
Canta tortura tântrica, tontura atôlmica
Tateando enfim, em um pestanejar de óculos
A face estampadada: o finício do infinito prazer.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Hall de entrada

Vi um novo hall de entrada
Tinha quadros de formas arredondadas.
Uma poltrona confortável
Tão confortável quanto pode ser,
Uma poltrona de hall de entrada.