segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Marasmo indefinido
Que impede qualquer ação.
Luz e vento que acabam
Com qualquer impulso de movimento

O contentamento com o simples
Simplesmente desagradável
Simplesmente parado
Simples simplesmente.

Essa frugal força,
Imensamente quente e cansada,
Paralisa o meu corpo
E destroça minha mente.

Um imenso desvario,
O zero absoluto.
O ponto onde tudo permanece:
O prazer sem fricção

Parece que lutar é trair-me
Qualquer abalo a paz desarmônica,
Algum desejo fora à constância
Tornam-se atos de um perdedor.

Nada mais santo e supremo
Que a redentora proposta
De uma vida sem atos
Onde nada podemos mudar
Então queremos nada mudar

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

luta-CAMinho

Começa mais um estágio da luta
Luta diária contra o sono
O sono que abate, que assusta
O sono que mata, mata a vontade de vida.

E ele é forte e vem de mansinho
Não tem horário nem respeito.
Vidro fosco, intransponível,
Se põe frente aos meus olhos
E enrijece o caminho do pensar.

Salto mortal, salto moral
Parado, quando não?
Costuro o céu e o sul
Mas quando ele deixa
Já perdeu o azul.

Nunca sabemos o quanto estamos sós
Nem se um dia não o estaremos.
Vem sonho-queimada.
Torna-te minha realidade!!!

Talvez em ti encontre uma
Em que possa estar acordado.
Nela a melancolia será de seda
E fará carinhos no meu corpo,
Enquanto cego-branco
Sentirei cada gota de chuva.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Quando a palavra espirra da boca
Como o instante antes do estourar da champanha
Ou o em que dispararam em Francisco Ferdinando.
Do último suspiro antes do gozo
Ou o penúltimo respiro antes de saltar pela janela.
É daí que sai a poesia, de alguma forma...
Daí, de mim e de tudo que engulo:
De boca aberta e sem enzimas suficientes.

Foda-se!

Não quero nada que ao ser servido não transborde
Pois o transbordar é o sujeito
A causa e não o efeito.

Quando a carne é excessivamente tenra
Ou flácida.
Aí se articulam e empuleram as teorias
Como bebês vendados em busca de um seio qualquer.
Seio da vida que os alimenta,
Para depois vomitarem tudo em palavras.
Aí que nasce, só aí que existe a poesia.

Agora não.
Agora só ânsia de paixão.
E sobra rincão para tão pouca canção.

Melhor parar aqui....pois hoje é dia-não.

mente confusa

É forte o corte,
Se perde o norte.
É dura a cura,
Mas a bússola desregula.

Minha mente é como um tigre
Que sempre escapa das redes.
Bolinhas se batem em paredes giratórias.
E quando tudo parece um lago calmo
Sempre um barco a motor surge do fundo.

Meu passo é como uma ponte,
Mas as vezes ando em círculos.
De que serve uma ponte circular
A não ser para os tolos admirarem?
Com a alma presa em um ventilador
Tento desesperado me manter no centro,
Mas é quase inevitável que ele esteja no máximo
E eu em uma perdida e mundana praça,
Com vento forte em meu cabelo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Arrumando o Quarto

Odor da infância
Suave fragrância
Que remete a constância
De alguns desejos

Antiga melancolia
Da solidão: tarde chuvosa.
Lembrança que exitosa
Ainda me faz companhia

Cartões de parentes desconhecidos
Feitos de palavras agora murchas
Músicas ruins e curtas.
Diplomas de cursos:
Começos de percursos abandonados.

Felicidades simples, intangíveis
Brilhos românticos na teia da neurose

Mas em meio a isso
Algo vingou,
Porque aqui continuo
Mesmo que incapaz
De derramar nenhuma lágrima.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

por uma nova utopia

Estou no meio do caminho.
Vejam bem, meio do caminho
Não o caminho do meio,
A síntese perfeita.
Não, no meio do caminho!

Sim, sei que estamos sempre
No meio do caminho.
Mas especialmente agora estou
Mais no meio do caminho
Do que nunca estive.

Pérola cinza quase fosca,
Sombra fraca do que já fui.
Primeiros milésimos do big-bang
Do vir-a-ser, de um futuro
Com menos adjetivos, se possível.

As grades nos prédios
Tornam-se grades internas
E não vemos que todos estamos
No meio do caminho.
Tudo está no meio do caminho
Neste instante especialmente.

O muro que caiu lá longe, lá fora
Parece que agora cai por dentro.
E vemos que os dois lados não iam a lugar nenhum.
Repentinamente sabemos
Que conceitos mal definidos de nada servem
Senão para justificar atrocidades.
Notamos agora que elas são nossos pais.

Mas algo se ensaia, quase mudo
Pintado nos novos muros,
Fazendo furos que não se sabe
Muito bem como aparecem.

A esperança não morreu,
Agora é melancólica,
Mas logo será um pouco eufórica.

E desorganizados e perdidos,
Cantaremos sozinhos hinos!
E de repente num instante
Todos colidiremos
No cume de um monte
Macio ele, nós.... macios.

domingo, 21 de setembro de 2008

plágio da memória (ou memórias de um plágio)

passamos tempo demais com a nossa cabeça em outro lugar...
sempre preocupados, pós ocupados...
aí a vida passa e não vemos nada..
estar relaxado e atento, como um animal que passa o dia esperando a presa é a nossa oportunidade de nos libertarmos dos amortecedores que rodeiam o nosso corpo...
e a presa se a fortuna e a virtude contribuírem será de um sabor inexistente nesse mundo, só tocável com pincel ou com pedaços de unhas cortadas há muito tempo esquecidas debaixo do sofá, ou entre nossos dentes...
Escute os pássaros!!! eles estão gritando... aqui e agora!!!!! AQUI E AGORA!!!!
mas é evidente que a saudade é inevitável....

Um Pássaro se libertou da gaiola e Um urubu foi preso na cela

Móvel de mogno escuro
Por isso em seu fora
Não marcou o sangue
Da briga de infante.

Ciúmes doentio,
Sentimento de vazio
Relação moderna
Sem rima interna.

Chão quebrado
Foi como luz negra
Tesoura abre-fecha
Buraco no rim.

Os gritos de prazer
Se tornaram de dor.
Queriam ser um só
E um só sobrou.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

patinetes, férias, outono

depois de calar o coliseu me pergunto... Onde foi parar minha pureza? E a minha liberdade? Consigo ainda me deslumbrar com um carinho, ou mesmo senti-lo como sentia? Uma parede azul de jogo e mistério me protege. Vê-se que o medo ressurge sempre, agora transvestido de amor.
E as vitórias de que valem, me trouxeram paz? Uma vida externa bem-sucedida vale a pureza dos meus sentimentos? Desistência, decência, condescendência, descendência.... Nunca sei bem o que escolher e no momento que escolho essa escolha se torna automaticamente errada.
Estar preso às próprias seguranças é pior que ser preso pelas garras do mundo. Racionalizar a emoção é como congelar um rio cheio de peixes. Calcular os atos constantemente é pior que nunca calcula-los.
Eu sou a neurose. Eu sou vocês humanidades, subjetividades. Eu sou a falta abundante em faltas. Sou aquela rua escura a noite que ninguém visita, e que durante o dia todos olham, mas não vêem. Será que a rua se vê? E meus olhos o quanto se viram pra fora e o quanto para dentro?
A coerência interna é a única. A visão de mundo que define a vida e não o contrário.Porém ainda preciso gritar:
-Em frente, bandeira erguida, sem saber de que! Nu e contra o vento até amansa-lo! Santo das causas perdidas de mim mesmo, sonhando ser isso para todos.
-Mas onde pensas que vais assim cavalheiro? Com brados infantis e sonhos sem esperança? Crendo-se capaz de derrubar o mundo com um simples meneio de cabeça ou abrir de braços?
-Vou e vou e ponto(.) Criança sem lógica e de rosto polimorfo como as que fazem dos grãos de areias castelos e de bonecos de plástico guerreiros. Meus braços apertarão forte a vida, antes que o receio a empurre. Os pés do pensamento nunca se deixarão prender a chão que não seja passagem. Por que? Para um dia poder falar menos de fora para dentro do que vice-versa. Para que tudo me marque até não saber mais de que carne sou feito, ou o dia em que tornei-me pó. E para que algum arqueólogo um dia venha a encontrar meus ossos no fundo de um mar.