segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Não Me Esqueci Daquela Rua de Terra Vermelha


Não me esqueci
Daquela rua de terra vermelha,
Das portas abertas nas casas
Amarelas, de pintura descascada.
Das crianças que saíam a rua
Com suas bandejas vendendo
Asas de frangos magros.

Não me esqueci do batuque
E o ruído da harpa estranha
Soando pelo de cabra e linhas de pesca
Que fugia por alguma fresta
Moradia vazia que não pude encontrar.

Não me esqueci dos pelos da muzúbia
Molhados feito na grama orvalho,
 De fluidos e de suor.
Nem do ruído dos mosquetes
Ingleses, enferrujados, ainda tentando atirar.

E mesmo despertando toda manhã
Sob o peso de cartas e contracheques;
Com as narinas cheirando o sal do charque
Produzido para cobrir nenhuma distância,
Ainda sonho sedento, com o sangue que pingava,
Mágico corte feito pelo africano na branca jugular,
Rendendo dias de festa:
Cachaça, farinha e peixe fresco.

domingo, 2 de setembro de 2012

Coxas


Os triângulos de carne crua
Vão formando uma rede.
As pupilas de açougueiros
Famintas estão em frente.

A jovem  de coxas esplêndidas,
Formosas facas gordas,
Salta nessa rede: a faz cama e elástica
Como a si.

E se oferece a carnificina
Em seu traje laranja
Nada vazio.
Goza às claras
Com as dezenas de mãos a tocando
Sorri com volúpia,
Grita: Meu corpo é deles, só deles!

Molduras


Molduras e molduras empilhadas
Sob elas meu corpo, deitado.
A luz transpassa as fendas,
Me intriga, ainda pode ser alcançada?

Mordo devagar  uma a uma,
Roendo como rato, já que o braço
Lesionados não levanta.
As felpas fazem cócegas na garganta,
O sono me toma.
Acho que amanhã eu tudo vejo.
Será?