terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Caleidoscópio Africano


O mistério dos sexos:
Cantigas e camisas
E as cambiantes capulanas*.

Cabanas de palha
Pilhas de carvão as rodeando.
Fumaça de lixo junto as cabras pastando.

Moscas passam em si urticando,
Sonhos de conforto desnecessário,
Atrás os holofotes de um comercial.

Cordas ligam tudo,
Fecham sacos, amarram motores,
Afinam tambores, prendem os loucos.
Arames entretecidos viram carros
De brinquedo, que transportam os donos.
Criatividade mágica provem da precariedade.

Precocidade, densidade que encurta a vida.
Sonhos vetados e os que profundos vingam
Sem você sonhar em ver.

Adjetivos, esses ajudantes sempre aleijados
Insuficientes em afirmações africanas.
Selvagens, haha, os chamam de selvagens.
Substantivos perdendo sua generalidade.
Chuva só é chuva se encharca.
Após se ver um baobá**
Nenhuma outra se chama árvore.

A vastidão dos desertos e as savanas.
A presença constante do horizonte
Vazio, não figurativo.
A figura que aparece do horizonte
Pede um cigarro e desaparece do lado oposto.

Sonhos de conquistadores
Lanças, tochas, rituais,
A feitiçaria onipresente escondida.
Nomadismo e todas suas conseqüências.

As primeiras migrações humanas,
A emoção de pisar em algum lugar
Onde nenhum portador de dúvidas havia pisado.
Tremer frente ao primeiro frio congelante,
Descobrir o fogo novamente.

Tudo pairando, cavalos marinhos no ar
Prontos a se inspirar, de boca aberta.

Sobre terra que não é de palavras
Palavras não irão resolver.
Aprender não se explica menino!
Vai ver e sai sabendo que não viu.

*Capulanas são os lenços de padrões coloridos utilizados pelas mulheres na África para se vestirem, carregar bebês, guardar roupas ou cereais.
**Imbondeiro: Árvore de grande circunferência existente na África, tema de muitos mitos, que normalmente por ser boa sobra se torna o centro de um vilarejo.

Um comentário:

Nina disse...

em Moçambique
tem moça no alambique?