quinta-feira, 28 de abril de 2011

Finito, o ainda não maldito

Finito cansou de levantar bandeiras. Lênin para ele tinha se transformado de Deus em uma Madonna de barbicha. E se cansava de ouvir gente reclamando do consumo e da poluição e do fim do verde e das relações liquidificador, como se a humanidade não tivesse o que merece, ou como se o mundo fosse feito de algodão. Acordou aquela manhã somente para sentir o sofá massagear suas costas, como faziam a mãe ou a última amada, há muito tempo idas as duas. Tinha decidido viver como se a vida fosse um cigarro e as pernas fossem feitas para se apoiarem nas paredes. Aceitava o desinteresse e o tédio, sentia saudades deles quando se excitava. Um dia foi passar o fim de semana em Brasília, para o casamento de seu tio-avô. Na volta os amigos perguntavam: “ como é lá, e a asa norte e o Renato Russo e os prédios do Niemeyer.” Ele respondeu: “É bom, lá comi um cachorro quente delicioso, eles põe purê dentro, é como concreto, feito para as partes não caírem, mas tem gosto de batata.” E mais nada. Dedicado ao silêncio convicto, esse é Finito, um excluído com preguiça de tornar-se um maldito.

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