terça-feira, 1 de março de 2011

Córte

Erva daninha, sujeito da história.
Cresce invisível ao pé da cama,
Quando notamos já somos fantoches
Dessa rubra máscara vazia.

Números escorrem líquidos por debaixo da porta
Enquanto se escutam os passos por detrás dela.
Será que é possível um ardor de entrega
Que nos acompanha como sombra?
Talvez não tê-lo seja sempre trair a quem se encontra.

As aranhas já tecem a minha volta
Quando recém deitei, nem sonhei.
As vejo, as entendo, mas fico imóvel.
Parece que é esperar assim por algum aspirador
Ou romper tudo de uma só vez.

Levanto com braços de espada
Corto laço após laço, cabeça após cabeça,
De amigos queridos, carrascos infantis,
Irmãs de sangue, padres de palavreado vago,
Ídolos idealizados, amores perdidos e encontrados.
A nação e seus ancestrais, a mãe, o pai.
Enquanto rolam os membros e cintos,
Deslumbrado de terror e êxtase
Danço a capoeira que não sei,
Uso o ábaco qual nunca usei.
A melodia mais bela explode do pulmão
Só para os comparsas deste deserto de sal.
O peito pressente a cápsula ou a lâmina:
Por não temê-la segue aberta sem encontrá-la.

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