sábado, 30 de novembro de 2013

O esgoto correndo negro

O esgoto correndo negro, nas ruas de Maputo
A milícia saiu para o seu retiro de campo e se armou pela democracia.
Eu era jovem quando aí,
Jovem como aquelas mudinhas que o governo planta nas calçadas e nunca crescem,
Porque falta terra.
Era bonito também.

Criava um mito, eu? A cada dia.
E tinha capulanas e era sem guerra,
Pura cor e frutas (o que é que a baiana tem? –
como eu adorava a Carmen Miranda aos 6 anos!).
Mas era mais vivo que o vivo e também escorria,
Em poesia luminosa, como uma barra de urânio,
Líquido,
Soviético,
Da pélvis a cabeça
Ligada ao teto pontudo
Das cabanas.
Em seu avesso só escravidão, cabeças baixas
(não me aproveitava também delas?),
Que queria libertar, iluminar
(A alma de um Che caricato despertando dos rios do Congo).

Quando volto, minha?
Quando voltas a ser minha (agora que sei que nada se tem)?
Quando terei de novo o prazer de correr em seus rios,
Ser água desviando dos crocodilos

Que querem comê-la?

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